terça-feira, 19 de julho de 2011

Um dia branco

Dai-me um dia branco, um mar de beladona

Um movimento

Inteiro, unido, adormecido

Como um só momento.

Eu quero caminhar como quem dorme

Entre países sem nome que flutuam.


Imagens tão mudas

Que ao olhá-las me pareça

Que fechei os olhos.

Um dia em que se possa não saber.



Sophia de Mello Breyner Andresen

domingo, 17 de julho de 2011

Lógica?


Não sei o que me deslumbra mais: se a lógica rigorosa do meu pensamento, se a metamorfose do pensamento em metáforas, se a construção de uma narrativa que, simultaneamente, se remete a sí propria e à matéria exterior que recupera.

O que sou sendo, outrora
Fui. Todavia não sendo
E sem então saber
Quanto era o que sou.

Fui sendo e sendo sou.
Diverso é só o verbo
Nunca se é quem se foi
Sempre outro se vai sendo.

Entre o que é estando
E o que está sendo
Nem mesmo quem estivesse
E pudesse ir sentindo
O que se é ou está
Ou que se foi ou esteve
Podia compreender
Esse sendo ou estando

Já não era quem estava
Nem sendo seria quem
Era. Ser ou estar sendo
O que se é ou se foi
É estar querer a ser
Ou nem é ser nem estar?